sábado, 21 de setembro de 2019

Comprar papel

Choveu mas não encontrei nas ruas o cheiro terroso das primeiras chuvas. Talvez tenha ficado esquecido em algum portal da infância. Há coisas que se escondem para que o uso não as degrade. Um vento fresco não pára de entrar pela janela e invadir-me o escritório. Um exército invisível desfila então perante mim. Sinto-lhe o ímpeto guerreiro e a mão esquálida que transporta nela o frio que há-de colar no corpo dos soldados mortos na batalha. Hoje tive de entrar num prédio onde não ia há décadas. A melancolia insinua-se sempre perante a devastação que o tempo tece. Fecho a janela. Passo em revista as tarefas que tenho pela frente. Não encontro nenhuma mais importante e urgente do que ir comprar papel para embrulhar o presente de uma das netas. É o que dá o comércio electrónico. Oiço o último trabalho de Ludovico Einaudi, Seven Days Walking. A música desliza pelo corpo do dia, reveste-o de seda e cinza para que ele pareça triste. No entanto, sábado resiste, enquanto as nuvens voam para leste. Ir comprar papel, essa é a verdadeira urgência.

2 comentários:

  1. Já quase ninguém compra papel para embrulhar presentes (todos se renderam ao saquito), mas não há nada como um presente personalizado.
    Adoro o Ludovico Einaudi, adormeço muitas vezes com o CD Una Mattina. Ele e o Max Richter (My Brilliant Friend, Three Worlds, The Blue Notebooks) têm sido os mais tocados aqui em casa ultimamente.
    Por aqui também choveu todo o dia :)))
    Bom fds.

    Maria

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    1. Max Richter, oiço menos. O Einaudi tem épocas. Se Preciso de estar concentrado a fazer qualquer coisa, o Einaudi ajuda.

      Bom fim-de-semana.

      HV

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