Choveu mas não encontrei nas ruas o cheiro terroso das
primeiras chuvas. Talvez tenha ficado esquecido em algum portal da infância. Há
coisas que se escondem para que o uso não as degrade. Um vento fresco não pára
de entrar pela janela e invadir-me o escritório. Um exército invisível desfila
então perante mim. Sinto-lhe o ímpeto guerreiro e a mão esquálida que
transporta nela o frio que há-de colar no corpo dos soldados mortos na batalha.
Hoje tive de entrar num prédio onde não ia há décadas. A melancolia insinua-se
sempre perante a devastação que o tempo tece. Fecho a janela. Passo em revista
as tarefas que tenho pela frente. Não encontro nenhuma mais importante e urgente
do que ir comprar papel para embrulhar o presente de uma das netas. É o que dá
o comércio electrónico. Oiço o último trabalho de Ludovico Einaudi, Seven Days Walking. A música desliza
pelo corpo do dia, reveste-o de seda e cinza para que ele pareça triste. No
entanto, sábado resiste, enquanto as nuvens voam para leste. Ir comprar
papel, essa é a verdadeira urgência.
Já quase ninguém compra papel para embrulhar presentes (todos se renderam ao saquito), mas não há nada como um presente personalizado.
ResponderEliminarAdoro o Ludovico Einaudi, adormeço muitas vezes com o CD Una Mattina. Ele e o Max Richter (My Brilliant Friend, Three Worlds, The Blue Notebooks) têm sido os mais tocados aqui em casa ultimamente.
Por aqui também choveu todo o dia :)))
Bom fds.
⚘
Maria
Max Richter, oiço menos. O Einaudi tem épocas. Se Preciso de estar concentrado a fazer qualquer coisa, o Einaudi ajuda.
EliminarBom fim-de-semana.
HV