A canícula continua incólume. Mal escrevo isto dou-me conta
da aliteração e hesito. Talvez devesse escrever outra coisa, antes que alguém
me diga para ir aliterar para outro lado. Há pessoas que têm tendência para me
olhar de esguelha e eu compreendo-as. Depois de meses de sossego voltaram, ao
espaço escolar aqui ao lado, os gritos agudos e os ruidosos risos da histeria.
Mais à frente virá a música dos bailes dos anos setenta e as Oscofórias das
eleições académicas. Submeto-me passivo e paciente, como um passageiro que num
grande transatlântico viaja em terceira classe. É essa a minha glória, ir pela
vida fora sentado em cadeiras de pau. Como disse ontem, tenho uma natureza
anafórica e, acrescento hoje, um ser dado à aliteração e à assonância. Já hoje
me repeti diversas vezes, embora com modulações de ritmo diferentes. No outro
dia respondi a um interlocutor, queria puxar-me o pé para literatice, que os
recursos estilísticos são apenas formas de vida, fazem parte de uma ascese
existencial como os exercícios espirituais para aqueles que aspiram à glória
dos altares. Olhou para mim e havia nele desalento e um democrático desprezo, com o
seu olhar a insinuar a minha demência. Na realidade, até eu me canso de mim.
Não compreendo por que razão o autor destas palavras me criou assim.
Desconheço-lhe os motivos, se é que os tem, os desejos e até a biografia. Nunca
tive engenho para narrador omnisciente.
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