Na minha secretária, feito de papel espesso sobre o qual apetece passar as pontas dos dedos, está um pequeno caderno salmão com uma
bela fotografia na capa. Na primeira página, impressos a castanho, flutuam dois versos
de um poeta cujo nome prefiro ocultar. Ofereceram-mo pelo menos há cinco
anos, talvez há mais, muito mais. Tenho lá algumas coisas escritas, mas não
passam de trivialidades soturnas, entre elas anotações sobre o romance Pasenow ou o Romantismo, do tríptico Os Sonâmbulos, de Hermann Broch. Noutra
página descubro umas observações pretensiosas sobre a ideia de Jesus Cristo
como Urmensch. Tudo o que lá encontro
dá-me, de imediato, um desgosto implacável. Só as páginas em branco fazem
crescer em mim a alegria, que recompenso com a promessa de nelas nada
escrever. Nunca fui dado ao registo das coisas inúteis que me ocorrem.
te graça na minha é o mesmo amo o caos, a maior desorganização produz organização
ResponderEliminarUma metamorfose secreta, digamos assim.
Eliminar