quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Gatos e malas vintage

Poderia dizer que o meu computador parece um gato. Isso, porém, não estaria de acordo com a realidade. É mais exacto afirmar: o meu computador é um gato. Dei-lhe um comando e ele, irritado e altivo, desatou a soprar ameaçador, com vontade de me trincar. Juro que lhe vi o dorso arqueado, o pêlo a eriçar-se-lhe e os dentes ostensivamente ameaçadores, numa boca de onde nascia um vendaval. Está tudo perdido, pensei sem saber o que fazer para acalmar a fera. Estava nesta indecisão quando ele decidiu calar-se, desarquear os costados e oferecer-se ronronante à actividade dos meus dedos. Respirei fundo, pois o ânimo dos gatos não se confunde com a subserviência canina. Salvo da indisposição da máquina, entro pelo domínio mirabolante da internet. Corro por ela como se fizesse uma maratona. A certa altura sou assaltado por um anúncio da TAP. Diz que vende sacos, a que dá o nome de malas vintage. Lembro-me de em adolescente ter uma que usava para transportar o equipamento de ginástica. Naquela altura eu não sabia que o saco era uma mala e ainda menos vintage. A verdade é que não devia sequer saber o que era vintage, pois sempre fui muito serôdio em tudo na vida. Agora que sei o que é vintage falo de coisas que não interessam a ninguém e confundo gatos com máquinas. A perfeição não é, por certo, o meu destino.

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