Poderia dizer que o meu computador parece um gato. Isso,
porém, não estaria de acordo com a realidade. É mais exacto afirmar: o meu computador
é um gato. Dei-lhe um comando e ele, irritado e altivo, desatou a soprar ameaçador,
com vontade de me trincar. Juro que lhe vi o dorso arqueado, o pêlo a eriçar-se-lhe
e os dentes ostensivamente ameaçadores, numa boca de onde nascia um vendaval.
Está tudo perdido, pensei sem saber o que fazer para acalmar a fera. Estava nesta
indecisão quando ele decidiu calar-se, desarquear os costados e oferecer-se
ronronante à actividade dos meus dedos. Respirei fundo, pois o ânimo dos gatos
não se confunde com a subserviência canina. Salvo da indisposição da máquina,
entro pelo domínio mirabolante da internet. Corro por ela como se fizesse uma
maratona. A certa altura sou assaltado por um anúncio da TAP. Diz que vende
sacos, a que dá o nome de malas vintage.
Lembro-me de em adolescente ter uma que usava para transportar o equipamento de
ginástica. Naquela altura eu não sabia que o saco era uma mala e ainda menos vintage. A verdade é que não devia
sequer saber o que era vintage, pois
sempre fui muito serôdio em tudo na vida. Agora que sei o que é vintage falo de coisas que não
interessam a ninguém e confundo gatos com máquinas. A perfeição não é, por
certo, o meu destino.
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