Não sei o que aconteceu, mas aquela melancolia dos domingos
à tarde parece ter-se desvanecido. Não é que tenha razões para tal. As
segundas-feiras continuam a seguir-se aos domingos e não me deixaram de trazer
com elas os imperativos com que a necessidade me carrega. Lembrei-me, ao pensar
nisto, do livro de Peter Handke, que deu origem a um filme de Wim Wenders, A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty.
O que angustia o guardador das redes é não saber o que adversário vai fazer,
para onde vai atirar a bola. Isso não se pode comparar com a melancolia dos
domingos, pois esta nasce de se saber bem de mais o que o dia seguinte traz. Lá
fora, a noite progride, cavalga sobre o casario, ri-se das luzes com que os
homens fingem deter o seu império tecido na urze das trevas. O silêncio tomou
conta das ruas e o último guarda-redes, depois de se atirar para o lado errado,
vai a pé para casa, alegre por amanhã ser ainda segunda-feira.
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