terça-feira, 17 de setembro de 2019

Exercícios de compensação

Um exercício de compensação. Estou a ouvir o Gurdjieff Ensemble porque na sexta-feira não posso estar na Gulbenkian para assistir ao seu concerto. A maior parte das coisas que fazemos são substituições daquelas que gostaríamos de fazer. Eu sei que vivo rodeado de heróis que só fazem aquilo que bem entendem, antevejo mesmo as suas estátuas a ornamentar as ruas do futuro. Como só tenho passado, estive a manhã empenhadíssimo a fazer coisas que tinha de fazer. É uma provação ficcional. Depois regressei, entrei lentamente em casa e sentei-me diante da televisão. As imagens passavam e eu passava com elas, sem saber do que tratavam, raptado pelo vazio que se abria em mim, um buraco negro pelo qual a vida entra sem que possa dali alguma vez sair. A música arménia flutua no ar e logo desce sobre mim. Como um Cristo cansado da morte, abro o túmulo e saio ao encontro de quem não me espera. Irrita-me a lentidão com que o word abre o thesaurus e desisto de alterar uma palavra que me está a irritar.

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