Um exercício de compensação. Estou a ouvir o Gurdjieff
Ensemble porque na sexta-feira não posso estar na Gulbenkian para assistir ao
seu concerto. A maior parte das coisas que fazemos são substituições daquelas
que gostaríamos de fazer. Eu sei que vivo rodeado de heróis que só fazem aquilo
que bem entendem, antevejo mesmo as suas estátuas a ornamentar as ruas do
futuro. Como só tenho passado, estive a manhã empenhadíssimo a fazer coisas que
tinha de fazer. É uma provação ficcional. Depois regressei, entrei lentamente
em casa e sentei-me diante da televisão. As imagens passavam e eu passava com
elas, sem saber do que tratavam, raptado pelo vazio que se abria em mim, um
buraco negro pelo qual a vida entra sem que possa dali alguma vez sair. A
música arménia flutua no ar e logo desce sobre mim. Como um Cristo cansado da
morte, abro o túmulo e saio ao encontro de quem não me espera. Irrita-me a
lentidão com que o word abre o thesaurus e desisto de alterar uma
palavra que me está a irritar.
Sem comentários:
Enviar um comentário