Vi muita coisa, disse para mim. Depois lembrei-me que a
frase podia ser um plágio descarado e decidi esquecer-me dela. Se a deixei ficar
onde estava foi porque não tinha outra para começar. Convém termos um armazém de frases para iniciarmos os textos, caso contrário ficamos com eles
encravados na ponta dos dedos, à espera da frase inicial para saírem teclas fora
e manifestarem-se como uma epifania na brancura imaculada do monitor. Só escrevo
no portátil, note-se. Nada de coisas manuscritas. Sou uma pessoa moderna e
sou-o há tanto tempo que a modernidade envelheceu em mim. Acabei de receber um convite
para gostar de uma página do facebook.
Vou ignorá-lo. Evite-se a poligamia ou, pelo menos, disfarce-se. Há quem
esteja disposto a gostar de qualquer página que lhe apareça. São os militantes do
gosto. Em certas alturas agarro a razão e prendo-a ali junto
ao cérebro. Tenho sempre a esperança de escrever coisas sensatas. O que
acontece, porém, é que nunca tive grande habilidade para fazer nós e a razão
escapa-se-me quando menos espero. Hoje foi por causa de uma palavra que
encontrei num documento que a realidade me mandou ler. A palavra era benchmarking. Mal a pobre razão deparou
com o vocábulo eriçou-se, retesou-se, quebrou a frágil amarra que a prendia à
massa cinzenta que ainda hei-de ter e fiquei neste estado. Sei uma quantidade
de histórias terríveis, mas também isto é plágio e o melhor é não contá-las. O sol matinal reverbera e uma luz quente entra pela janela. Lá fora está frio e isto é tudo o que sei do mundo. As minhas histórias não pertencem a este mundo
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