A humidade destes dias abriu caminho por dentro da secura do
clima. Não é uma terra fácil. Exige um carácter compassivo mesmo aos mais
coléricos. Sem a virtude da paciência será difícil enfrentar e suportar os
humores climáticos. Tenho pena, ou não fora um exemplo de melancólico, embora haja
que descontar a tendência para a hipérbole, tenho pena, dizia, que a psicologia
se tenha vindo a esquecer daquela velha divisão dos caracteres em quatro, todos
eles belos como metáforas à deriva num campo em flor. Esta última frase
mereceria ser riscada e não sem violência. O apelo ao pathos através destas estratégias para caçar ingénuos deve ser proscrita.
Fica lá, só para eu não me esquecer que há coisas que nunca se devem escrever.
Voltando aos caracteres, eles faziam uma bela divisão com os seus nomes.
Fleumáticos, melancólicos, sanguíneos e coléricos. O facto de serem quatro
ainda os torna mais dignos de admiração. A perfeição do número par, que se opõe
à imperfeição de qualquer ímpar, contrasta com o caos classificativo com que
hoje em dia designamos as pessoas. Como se pode negar a eficácia de dizer ali
vai uma melancólica? É pena que tenha casado com um colérico. Assim nunca
poderá ter filhos fleumáticos. Tornou-se moda, uma triste moda, ser contra as
classificações. Por tudo e por nada, se grita não me classifiques que eu estou
para lá de todas gavetas com que organizas a realidade. Presunção e água benta,
penso eu, cada um toma a quer. Um ditado ao gosto popular nunca fica mal para
pôr fim a um texto.
Não estava mal pensada a classificação, ainda que um pouco redutora. Acontece é que se forem como eu, podem variar simplesmente com as estações do ano, numa espécie de bipolaridade climática:)
ResponderEliminar~CC~
Depois a classificação foi se tornando mais complexa, mas julgo que hoje em dia tem pouca aplicação, a não ser em certos redutos católicos. Mas não tenho a certeza sobre isso.
EliminarHV