domingo, 19 de janeiro de 2020

Críticas impertinentes

Não sem um sorriso compassivo leio que Baudelaire e Verlaine seriam dois versejadores muito inábeis na forma e baixos e banais no conteúdo. Depois a diatribe continua por mais um parágrafo, dezassete linhas em que a espada crítica enche os alvos com vários golpes. Ambos sangram com abundância e, nos espectadores, há lágrimas a rolar pelas faces. Na continuação, conclui-se que tão má poesia é vista como genial porque na sociedade onde ambos versejam a arte não é levada a sério. Quem o disse, perguntará o leitor, dado à poesia, condoído do pobre crítico, que deveria saber tanto de literatura como eu de chinês. A vida é feita destas coisas. Comecei o domingo assim, com uma má leitura, dir-me-ão, mas não tarda ponho o livro de lado para ir ver a rua e deixar-me embalar pelas ondas luminosas que se desprendem do Sol. A natureza tem sempre o condão de lavar a alma, quando não é ela que a suja, pois esconde no mais fundo de si um verdadeiro talento para desencadear a concupiscência. Esta palavra recordou-me as quatros virtudes cardeais, mas só me lembro de três. A força, a temperança e a justiça. Dou voltas à memória e, como ela se ri das minhas pretensões, recorro à informação em linha. Ah, exclamei ao ver estampado num texto a sabedoria. É o que me falta para ser virtuoso, pensei, embora nem toda gente esteja de acordo sobre se essa é a única virtude que me falta. O leitor não desespere, porém. O autor impertinente que ousou afrontar Baudelaire e Verlaine também escreveu coisas como Guerra e Paz ou Anna Karenina. Vou almoçar.

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