Fosse eu um revolucionário, e bater-me-ia pela semana de cinco dias. Três deles dedicados ao provimento de bens para enfrentar o mar encapelado das necessidades e dois para descansar dessa árdua corveia. Não se pense, porém, que o meu intuito é solapar a economia de mercado. Ela saberia adequar-se, talvez até em demasia, à nova realidade. A minha intenção é mais penetrante. Funda-se na ambição de dar uma maior racionalidade ao calendário. Passaríamos a ter anos com setenta e três semanas, nos quais desapareceria aquela incerteza de saber a que dia da semana corresponde o dia do mês. Estariam sempre casados, num casamento indissolúvel. Nas escolas, ao lado da tabuada ensinar-se-iam as correspondências entre os dias do mês e os da semana e ao fim de uns anos ninguém precisaria de consultar um calendário. Nos anos bissextos, como o actual, o dia superveniente seria declarado o dia órfão, pois não teria nem pai nem mãe, já que não pertenceria a nenhum mês nem a nenhuma semana. Poderia ser também chamado o dia sem-abrigo. Devido à sua superveniência, ocorreria depois do último dia de Dezembro e antes do primeiro de Janeiro. O que se faria nesse dia deixo-o à consideração do leitor. Tudo isto é muito mais razoável do que afinar os dias da semana com as fases da Lua, com o estendal de irracionalidades que isso traz ao mundo. O pior é que não tenho talento para revolucionário e acomodo-me desavergonhado com semanas de sete dias, impotente para enfrentar o obscurantismo desta divisão do calendário, produto da magia negra, a qual como se sabe tira a sua luz das fases lunares, fundamentalmente da lua nova. Alguém me diz, ou eu imagino-o, que também a minha mente é iluminada por essa luz. Não tenho ambição de contrariar seja quem for.
Sem comentários:
Enviar um comentário