Cometem-se erros por ignorância.
Não se sabe como se escreve um vocábulo, mas incitados pela preguiça natural
que faz parte do ser humano escreve-se aquilo que parece ser a palavra e não o
que ela é. Outros erros há que são mais interessantes. Sou atingido por eles
com regularidade. Ainda ontem escrevi usou no lugar de ousou. A quase homofonia
explica aquilo que os dedos, comandados por um cérebro confuso, digitaram.
Colocamos esses erros sob o manto do descuido e com este tapamos não o erro,
mas o que se passa na nossa mente, a ameaça de caos que a atinge. Semelhanças
diversas, com o passar do tempo, fazem com que as fronteiras que distinguiam
certas palavras sejam cruzadas e um caos ortográfico atinja as regiões
policiadas do léxico. Não deverias começar a semana – de trabalho, claro – com
meditações dessas, diz-me a consciência, sempre pronta para moralizar e dar
conselhos a quem não lhos pediu. Levantam suspeitas, continuou, e roubam-te o
ânimo para enfrentares os dragões, os quadrilheiros e as amazonas mórbidas que
te hão-de saltar ao caminho. Tapei os ouvidos interiores e pedi-lhe com
delicadeza que se calasse. Tenho uns emails para ler, decisões para tomar e,
acrescentei não sem acinte, sei tomar conta da vida sem que precise dos teus conselhos de rameira convertida em puritana. Vindo da praceta ao lado,
oiço um barulho. Parece um martelo a percutir pedra. Imagino que estão a cuidar
da calçada, mas retenho a curiosidade. Talvez seja uma ilusão e o melhor é não
a desfazer, antes que tenha de me interrogar por que razão ando a imaginar
coisas.
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