quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

O primeiro dia

Cheguei a 2020 cansado, o que não me parece lá muito boa ideia. O mais indicado era ter aterrado no novo ano em plena forma física, exuberante e cheio de prognósticos favoráveis. Na verdade a única coisa que me apetece, agora que o primeiro dia se está a escapulir, é bocejar. Terei dormido pouco, é verdade. No entanto, é isso que me acontece sempre e não ando por aí a abrir boca. Quanto ao resto, consta que o mundo não se alterou apesar dos réveillons e fogos-de-artifício. Chegado de Lisboa, sento-me à secretária e revejo a agenda para os próximos dias. A realidade, depois de uma semana de fantasia, começa a bater à porta. Bem tento fechá-la, mas faltam-me as forças. O dia esteve frio, nas ruas as pessoas vestiam-se como se estivessem no Inverno. Por uma vez não se enganaram na estação. O ideal, penso, seria eliminar as pessoas destes textos. Apagá-las sempre que se apresentam em cena ou talvez apagar-me a mim. Pegar numa borracha e sem pressa ir extinguindo cada um dos meus traços, até que não fique no texto nada a que possa chamar meu. A isto chamou-se em tempos ascese, o exercício de renunciar a si mesmo, coisa que caiu em desuso e é vista como uma grave patologia. 

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