Passo os olhos pelos jornais e descubro que cinco pinturas
roubadas há quarenta anos na cidade alemã de Gotha tinham sido recuperadas.
Entre elas encontra-se uma de Hans Holbein, o Velho, que o jornal indicava ser Santa
Catarina, um quadro de 1509. Havia naquela mulher uma tal tristeza que duvidei
que se tratasse de alguém tocado pela graça da santidade. É o retrato de Katharina
Schwarz, onde no lugar da beatitude se encontra uma infelicidade resignada com
o mundo e consigo mesmo. Procurei outros retratos de mulheres do mesmo Holbein.
Neles há sempre um elemento desconcertante, como se a beleza tivesse sido
proibida àquelas mulheres e lhes restasse apenas o ar austero para assegurarem
um lugar no mundo. Exceptua-se uma representação de Maria, onde o amor pelo
Menino a resgata dessa rispidez fria e lhe dá uma beleza contida e secreta.
Olho pela janela e descubro que sob a copa das árvores do pequeno bosque
consigo avistar uma rotunda cuja estatuária, tão do agrado popular, me faz
lembrar as soturnas representações do realismo socialista. Sorrio e volto os
olhos para a infeliz Katharina. Apesar da beleza das mãos, a imperfeição do
rosto rapta-a e cerra-a num mundo de onde nenhum príncipe, mesmo de gosto
plebeu, a há-de resgatar. Na rotunda, os carros circulam devagar, talvez em
contemplação, enquanto a minha memória me traz, sem que eu saiba a razão, um
filme alemão visto há uns anos com o estranho nome Adeus, Lenine! Pobre Katharina, pensei.
Estranho nome mas magnífico filme!
ResponderEliminar~CC~
É verdade.
EliminarHV