Quando olhei para o mostrador do telemóvel, ao acordar, achei que tinha dormido em excesso. Depois consultei o relógio e descobri que havia uma discrepância de sessenta minutos. Afinal, tinha dormido um pouco menos, mas o relógio estava irrevogavelmente atrasado. Atrasado e fora de moda, pois não se auto-actualiza como os computadores, tablets e telemóveis. Começa a irritar-me esta história da mudança da hora. Uma para a frente, uma para trás, uma para a frente, uma para trás. Que falta de constância, que volubilidade. O relógio em casa da minha mãe, esse é muito fiel ao seu fluir sensato. Metade do ano está certo, a outra metade, adiantado uma hora. O dia ficou estragado nem sei bem porquê. Acabo de acertar o relógio. Não tarda e serão cinco da tarde, como no poema de Lorca. O almoço de tardio passou a ultra tardio. Uma hora na vida tem mesmo excessiva importância. Recordo-me de um primeiro-ministro ter decidido que os nossos relógios se deviam acertar pelo meridiano de Berlim e não pelo tradicional Tempo Médio de Greenwich, como se ele pudesse decidir, pelo poder que lhe fora conferido para governar, o lugar geográfico do país. Agora nada de meridianos ingleses, nós somos todos da Europa central, mesmo que vivamos na periferia, quero eu dizer no subúrbio da Europa. Portugal é um país maravilhoso, mesmo se há gente com ideias destas ou como o outro que transformou o árabe Algarve no britânico Allgarve. Ou, ainda pior, aqueles que acharam que dinamitar as consoantes mudas das nossas palavras era um progresso em direcção sabe-se lá a quê. É preciso muita paciência e eu estou proibido pelo autor de derramar sobre assuntos políticos.
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