Os dias passam-se numa sucessão pavorosa de pequenos nadas, que, ao avolumarem-se, tomam o dia e acabam por lhe retirar sentido, se ele tivesse algum. Talvez a vida seja uma sucessão de irracionalidades, que de tão habituados a elas nem as vemos como tal. Aquilo a que chamamos razão não, passaria, de um longo hábito, de uma colecção de hábitos que rapta o que sucede da sua inquietante estranheza e nos permite dormir descansados. O pior é quando as pessoas envelhecem e os nexos criados pelo costume se começam a desfazer. Então, os tempos irrompem fora da ordem corrente e o caos instala-se. O que acontece agora já nem se distingue do que sucedeu há oitenta anos, saltando-se no tempo com muita mais vigor de que se salta no espaço. Parece mesmo haver uma estranha e negativa correlação entre um corpo cada vez menos capaz de saltitar e uma mente cada vez mais saltarela. Há em tudo isto alguma coisa de grotesco, traços demasiado exagerados que fazem lembrar certas obras expressionistas. A hora crepuscular aproxima-se, o dia acerta as contas na portagem da auto-estrada que o levará para a noite. É o que me apraz dizer neste dia em que faz anos que morreu Johann Wolfgang Goethe e que foi extinta a Ordem dos Templários. Estas informações são irrelevantes, mas o que o não será nesta vida?
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