A vida está cheia de jogos florais. Foi o que me ocorreu há pouco quando passei os olhos pela imprensa. O facto de serem florais não dá a esses jogos um aroma aprazível. Muitas vezes, o cheiro é nauseabundo e sob o florilégio encontramos cadáveres em decomposição. Não devia escrever estas coisas, logo hoje que é sexta-feira e o fim-de-semana se apresta para entrar com a sua túnica de enganos. Na rua, brilha um sol pouco convicto, mas isso deve-se aos tempos que nos foram dados viver. Acabaram-se as grandes narrativas, as que geravam férreas crenças e inabaláveis convicções, abundando pequenas narrativas sem nexo, a que as pessoas emprestam, por instantes, o seu crédito, para logo as esquecerem e comprarem outras que exibirão nas próximas horas. Quem quer saber da Quaresma e dos rituais preparatórios da Páscoa? Tudo isso pertence a um passado que, visto da estância balnear do presente, não passa de uma sombra. Coisas importantes mesmo são a abertura do cabeleireiro ou do restaurante. Nisto não há nenhuma censura da escala de valores que guiam as gentes. Pelo contrário, também eu aspiro a poder ir a um restaurante. A vida é feita de pequenos nadas.
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