quinta-feira, 11 de março de 2021

Meditações inúteis

Dou comigo, por vezes, a perguntar-me como chegam, os compositores, à música que compõem. Ouvi-la-ão dentro de si? Resultará de conexões abstractas de tipo matemático? Nunca li nada sobre o assunto e talvez existam múltiplos processos de composição. Uns mais concretos, outros mais abstractos. Haverá uma ideia a priori daquilo que vai ser composto, ou a composição vai emergindo, as partes posteriores fundadas nas anteriores, num jogo de tentativas e erros? O que vale para a música valerá para qualquer outra arte? O pintor verá na mente aquilo que pintará, ou o quadro vai emergindo de um nevoeiro inicial? O dia está nítido, apesar de sombrio. Ora aquilo que agora é plenamente visível proveio de uma zona de trevas, a que damos o nome de noite. Dessa zona de escuridão, a realidade que agora observo foi-se libertando pouco a pouco, até se tornar visível, clara e nítida. Não devia ter comido chocolate, ocorre-me. Não comi muito, mas o suficiente para sentir que foi demais. Será a feitura do chocolate uma arte como a música ou a poesia? O artesanato foi separado drasticamente da arte, mas talvez seja possível pensar num chocolate ou numa refeição como uma performance e fazer entrar no domínio da arte aquilo que se dirige ao sentido do gosto. O melhor é deixar de lados estas meditações, as quais fazem parte da minha colecção de pensamentos inúteis e sem nexo. Esperam-me para um evento online. O que é justo, pois sou já um ser virtual.

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