Tive de sair para ir a uma farmácia. Esta frase é muito diferente da que diz: tive de sair para ir à farmácia. Nesta última, a farmácia é a que se vai sempre ou quase, aquela que um longo hábito a tornou a farmácia por antonomásia. Uma farmácia é a que resulta de uma procura motivada pelo encerramento dominical da outra, da autêntica. As farmácias são dos estabelecimentos que ainda resistem à infidelidade contumaz que as grandes superfícies trouxeram. Em tempos, os clientes estabeleciam relações de proximidade com os estabelecimentos do pequeno comércio. Conheciam os proprietários e os empregados. Por vezes, eram clientes, porque os pais já o tinham sido. Agora, ninguém é fiel ao hipermercado ou à empresa que vende electrodomésticos. Paga-se menos pelos produtos, mas as relações sociais ficaram mais pobres, mais abstractas e mais deslassadas. Perde-se o espírito de comunidade e os indivíduos tornam-se átomos guiados apenas pelos seus interesses. Nem sei o que me deu para esta deriva sociológica. O domingo está um dia indeciso, como muitas vezes acontece em Março. Vai variando entre um sol já quente e um céu nublado. Os dias estão bem maiores e nas ruas começa a espalhar-se o aroma da Primavera. Vi pouca gente, mas como fiz a viagem de carro e relativamente cedo, pode ser que a minha impressão esteja enviesada. Aliás, enviesamento é o que não falta nas minhas opiniões. Ando sempre a olhar de esguelha.
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