Numa das estantes perto da secretária está o romance Adoecer, de Hélia Correia. Espera vez. Os extractos de críticas presentes na contracapa denunciam que se está perante uma segunda edição. Fui verificar. Não é o que se passa. É uma primeira edição, mas numa primeira reimpressão. Todos eles são encomiásticos e nada me leva a crer que haja ali algum exagero. O livro é de 2010, ainda não havia pandemia, e isso deve sossegar o leitor. No entanto, o título, vindo do passado, parece mesmo propositado. Na imprensa, a qual já pouco impressa é, as coisas obscurecem-se. Países a confinar de novo, outros em catástrofe contínua. Entre os hosanas à vacinação e a realidade da libertação do estado patológico em que se caiu há uma grande diferença. Afigura-se existir um braço de ferro entre o vírus e a humanidade. Esta teima em voltar ao ponto em que se estava. O vírus, todavia, parece não estar pelos ajustes. É um agente de mudança. Quer-nos a todos mais afastados, mais protegidos, mais comedidos. A questão que me surgiu ao ler o título do romance de Hélia Correia foi se o vírus nos tornou doentes ou se nós já estávamos doentes e ele veio chamar a atenção para o facto. Não tinha pensado em nada disto. Ocorreu-me agora, talvez devido à inclinação do sol. Na página 120 da primeira reimpressão, a autora escreve: O Doutor Hailes recomendou muito repouso. Era o que sempre recomendava quando não se entendia com a doença. Já há muito que não via conselho tão sensato. Alguém se entende com a doença? Parece que não. Então que se repouse muito e de preferência afastados uns dos outros, não vá o vírus tecê-las.
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