Ao acordar pensei que os dias de férias são uma ilusão, que
passa rapidamente. Depois, pensei que talvez sejam a antevisão do paraíso
celeste. As pessoas, mesmo as que foram educadas no mais estrito catolicismo,
esquecem que, na tradição judaico-cristã, o trabalho foi dado aos homens como
punição e não como uma bênção. Se se quer uma prova de que vivemos num mundo
pós-cristão, basta olhar para o culto do trabalho e da produtividade que há por
todo o lado, basta ter em conta que a punição é agora vista até como um prazer.
Isto disse ontem, ao jantar, o padre Lodo. Estando ele tão perto, não podia
deixar de vir jantar cá a casa. As suas palavras, porém, indignaram a geração intermédia
da família, toda ela crente na máxima que o trabalho é o destino dos homens.
Foi uma indignação silenciosa, pois por deferência remeteram-se ao silêncio,
mas eu bem os conheço. O padre, talvez fingindo que não percebia, continuou,
com o seu espírito verrumante, e disse que mais valia um santo ócio do que
ser-se masoquista e fazer da tortura um prazer. Depois riu-se e pediu para não
o levarem a sério, pois não era pessoa de fiar, ele que foi inimigo da Igreja e
depois dera em Jesuíta, ainda por cima. O ainda por cima ficou em suspenso. Foi
esta conversa que se prolongou noite dentro que me assaltou ao acordar. Agora,
porém, preciso de sintonizar o espírito com a realidade, pois não tarda vêm
aqui fazer umas pequenas obras e, como se sabe, qualquer pequena obra é um
grande incómodo.
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