Poderia contar uma história de ninfas a saírem das águas do
rio, mas a verdade da narrativa teria tal peso que se tornaria insuportável. Se
alguém avistar, como eu avistei, ninfas nas águas de qualquer rio, o melhor é
omitir a história, pois não devemos sobrecarregar o mundo dos outros com o peso
da verdade. Recolho-me à sombra e protejo-me do sol de Agosto. O ramalhar das
árvores e dos arbustos indica a presença do zéfiro e que o dia, aqui neste
lugar onde me escondo da realidade, terá um calor moderado. Ontem nadei, coisa que não fazia há muito.
Não se pode dizer que o resultado seja animador. Os corpos sintonizam-se para
certas actividades e quando os surpreendemos com outras não programadas, eles nunca
deixam de protestar. Há mais de uma semana que oiço, embora sem escutar, as
obras para piano de Grieg. É um ouvir despreocupado, uma presença longínqua que
me abre para o silêncio, a confissão de que por estes dias cultivo a mais funda
despreocupação. Nos arbustos, os nomes escapam-me, fulguram flores a cujas
cores também não sei que nome lhes dar. Talvez nada disso exista, pelo menos
para mim, pois só existe aquilo que sabemos nomear. No dia em que me esquecer
do nome, também eu deixarei de existir.
...e eu ouço "clair de lune" enquanto leio o texto.
ResponderEliminarfizeram uma excelente combinação.
Muito obrigado e uma boa audição.
EliminarHV