sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Sobre hibiscos

Também eu terei de me render à ideia de que os sonhos são uma fonte de revelação. Ando há meses para ver se me recordo do nome de um certo tipo de arbustos de jardim. Esta noite, ao contrário do que é hábito, um sonho conseguiu romper o denso véu que me separa o inconsciente do consciente, e fui lembrado de que esse arbusto se chama hibisco, um dos mais comuns. O que me perturba, todavia, é outra coisa. Após a revelação do nome, seguiu-se entre duas partes que presumo serem eu uma discussão ortográfica sobre se hibisco se escreve com um h inicial ou um i. Não sei qual das partes saiu vencedora da contenda, mas que uma delas tenha pensado que hibisco se inicia com um i, isso deixa-me desgostoso com a existência, em mim, de um poço obscuro que me dispõe ao erro. Enquanto contemplo os hibiscos floridos, penso que não é normal alguém sonhar com discussões ortográficas, encenar uma disputa como se escreve uma palavra, cuja grafia, em estado de vigília, nunca ofereceu dúvidas. Fora eu dado à psicanálise e teria, em torno dos hibiscos, do esquecimento do nome e da disputa ortográfica, matéria para muitas sessões. Não o sendo, só espero que o corrector ortográfico, no dia em que escrever ibiscos, me faça o favor de corrigir para hibiscos. O mais estranho de tudo isto é que a jardinagem nunca gerou em mim um grama de curiosidade. As sextas-feiras de Agosto não me parecem propícias para encontrar assunto que interesse a quem quer que seja.

Sem comentários:

Enviar um comentário