Também eu terei de me render à ideia de que os sonhos são
uma fonte de revelação. Ando há meses para ver se me recordo do nome de um
certo tipo de arbustos de jardim. Esta noite, ao contrário do que é hábito, um
sonho conseguiu romper o denso véu que me separa o inconsciente do consciente,
e fui lembrado de que esse arbusto se chama hibisco, um dos mais comuns. O que me
perturba, todavia, é outra coisa. Após a revelação do nome, seguiu-se entre
duas partes que presumo serem eu uma discussão ortográfica sobre se hibisco se
escreve com um h inicial ou um i. Não sei qual das partes saiu
vencedora da contenda, mas que uma delas tenha pensado que hibisco se inicia
com um i, isso deixa-me desgostoso com a existência, em mim, de um poço
obscuro que me dispõe ao erro. Enquanto contemplo os hibiscos floridos, penso
que não é normal alguém sonhar com discussões ortográficas, encenar uma disputa
como se escreve uma palavra, cuja grafia, em estado de vigília, nunca ofereceu
dúvidas. Fora eu dado à psicanálise e teria, em torno dos hibiscos, do
esquecimento do nome e da disputa ortográfica, matéria para muitas sessões. Não
o sendo, só espero que o corrector ortográfico, no dia em que escrever ibiscos,
me faça o favor de corrigir para hibiscos. O mais estranho de tudo isto
é que a jardinagem nunca gerou em mim um grama de curiosidade. As sextas-feiras
de Agosto não me parecem propícias para encontrar assunto que interesse a quem
quer que seja.
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