Olho para as previsões meteorológicas e calculo perdas e
ganhos, projecto cenários de dor e prazer, arquitecto estratégias de defesa,
pois as de ataque não estão disponíveis no mercado da meteorologia. O clima
tornou-se uma guerra, pensei, uma guerra em que apenas podemos implorar por
abrigo. Hoje tem chovido e parece que vai continuar durante todo o dia. Isso contenta-me,
sinal de que já me satisfaço com pouco. Recebi há pouco um email de Lodovico Settembrini,
o padre Lodo, como todos os amigos o tratam. Disse-me estar preocupado com uma
coisa que escrevi aqui sobre o príncipe Saurau. Fê-lo lembrar o Leo Naphta, e Deus
me perdoe – escreveu o padre – apesar de ter, como ele, dado em jesuíta, não
suporto a personagem e as suas malditas ideias, sopradas pelo demónio. Eu que
me cuide, escreve, pois há muito que desconfia existir em mim uma certa inclinação
para o cepticismo. É preciso ter fé, continuou, seja no for, nem precisa de ser
em Deus. Eu rio-me da velha pendência dos dois padres e penso que talvez não
devesse escrever isto, mas nem sempre consigo resistir às tentações. Talvez
seja do meu cepticismo ou da minha falta de fé, seja no que for. Oiço os
pássaros e o seu canto mistura-se com o rumor do trânsito. A vida é um exercício
de paciência, penso.
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