Quando acordei, eram oito horas, nem queria crer que hoje é
sábado. Uma fúria sonora entrava-me pelo quarto, vinda da praceta em baixo. A
empresa responsável pelos espaços públicos acha que o dia adequado para cortar relva
é o sábado. Talvez as lâminas deslizem melhor, as folhas estejam mais aptas
para o corte ou, uma hipótese, considere imoral as pessoas, no início do
fim-de-semana, prolongarem o sono pela manhã. Não é que me levante mais tarde,
mas acordar ao som da metralha dos corta-relvas não faz parte do melhor dos
mundos possíveis. Levantado, comecei a barricar-me dentro de casa, fechando todas
as janelas por onde outro inimigo, o sol, possa entrar. O combate com o astro,
pensei enquanto descia as persianas, ainda não saiu da idade média. Há que
construir muralhas e evitar que o inimigo possa passar por elas. Entretanto, o
afã ruidoso suspendeu o massacre dos inocentes moradores, mas a manhã
apresta-se para pôr fim à sua curta existência. Oiço vozes na rua, talvez
pessoas na esplanada, enquanto me envolvo no manto sombrio da escuridão. Não
tarda terei de ir à rua. Reparo que o word me assinala uma incorrecção
gramatical, mas o domínio da gramática é uma competência que o word
ainda está longe de ter adquirido com sucesso. Talvez um efeito da pandemia. Necessitará
de aulas de recuperação, suponho.
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