São poucos os dias que Agosto ainda tem, antes que a sua
folha morta caia da árvore do calendário. Por vezes, a retórica que uso dá-me
vómitos. Dedilho-os, aos dias, como se não soubera contar e franzo o sobrolho.
Por vezes, escrevo de noite recados para que faça alguma coisa quando a próxima
manhã chegar, com a luz que for a dela. Raramente, olho para eles. Chega-me um
vídeo do meu neto. Há duas palavras que ele domina na perfeição. Não e pára.
Parecem-me óptimas e as mais adequadas ao tempo que vivemos. Também, caso
pudesse ou tivesse coragem para tanto, resumiria o meu vocabulário ao advérbio
não e ao verbo parar. A primeira utilidade seria a que deixaria de escrever
estes textos, as outras, e não seriam poucas, revelar-se-iam com o tempo. Há
uns anos, um amigo contou-me que uma pessoa da sua família foi encurtando,
pouco-a-pouco, o vocabulário que usava, até que chegou o momento em que se
recusou a pronunciar qualquer palavra. Ouvia os clientes do seu estabelecimento,
mas nunca usava a voz para lhes dizer fosse o que fosse. Gestos de mãos,
expressões de rosto, meneios corporais. Os clientes habituaram-se, não o
abandonaram, e talvez um ou outro lhe tenha seguido o exemplo. Como dizia esse
meu amigo, os bons exemplos devem frutificar. Por agora, seria menos radical, usaria
ainda o advérbio não e o verbo parar. Voltar-me-ia para este Agosto prestes a
render-se a Setembro e dir-lhe-ia: Não. Pára! Ele responder-me-ia na mesma moeda:
Não paro. É o que faz a falta de assunto numa tarde de Agosto.
Sem comentários:
Enviar um comentário