É tão breve o tempo de suspensão entre o prazer e a
realidade que acabo por não saber o que fazer com este domingo. Talvez por
antecipar que estão a chegar os dias do ruído, descobri um álbum do Coro da
Rádio da Letónia com o magnífico título O Fruto do Silêncio. É composto
por sete peças de outros tantos compositores letões. De todos apenas conhecia Pēteris
Vasks, cuja peça dá título ao álbum. É uma experiência desconcertante escutar
música produzida por compositores dos países bálticos. Há neles uma
profundidade espiritual, de coloração religiosa, que praticamente desapareceu
da música erudita ocidental. A composição de Martins Vilums denomina-se O
Tempo Cintila, a de Ēriks Ešenvalds, Uma Gota no Oceano. E isto diz
tudo o que, neste momento de suspensão, posso dizer de mim, miserável narrador
sem narrativa. Enquanto o tempo cintila, fruto do silêncio, não passo de uma
gota no oceano, ou nem isso.
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